The House of Mikael

Estava descendo para o porão com o corpo vendado e amarrado, provavelmente ainda desacordado. Obviamente tranquei a porta do porão, para caso ele estivesse apenas fingindo que estava desacordado – alguns tinham uma habilidade incrível para se manterem vivos, ou eu devia apenas resumir como instinto de sobrevivência? –. Coloquei ele na cadeira e verifiquei se estava realmente desacordado, se não estivesse, o faria apagar novamente. Agora desacordado, desamarrei o seu corpo e prendi sua cabeça, braços e pernas nos devidos lugares da cadeira.

Antes dele acordar já estava preparando os sedativos e esterilizando as facas.

Assim que ouvi o barulho dele tentando se libertar e gritar, me virei, com uma agulha cheia do sedativo mais forte e concentrado.

— Oh, finalmente, hein — falei e comecei a me aproximar — Boa noite! Teve sonhos interessantes? — continuei, agora já preparando a pele do homem para a agulha, limpando com álcool e algodão o local que deveria ser aplicado, no caso, o braço — Vai ser só uma picadinha — enfiei a agulha no seu braço. Depois de todo o sedativo ser liberado no seu braço, levei a agulha até o local aonde estava os outros equipamentos e comecei a esterilizar ela novamente, pegando uma faca bem afiada e esterilizando também. Voltei até o homem e cortei o que tampava sua boca, rasgando um pouco da sua pele também. Ainda encarando ele com um sorriso amigável e contraditório.

Não liguei nem um pouco para as maldições jogadas contra mim, estava acostumado. No entanto, o sorriso de meu rosto desapareceu quando notei que ele estava sonolento.

— Está muito cedo para dormir, calma aí — falei e comecei a rasgar o seu braço, enquanto, com o outro braço, ligava a churrasqueira. O costume daquelas ações eram tão grande, que mesmo se o homem se remexesse de dor, o corte continuaria perfeito e que eu era capaz de acender um fósforo e atirá-lo às madeiras da churrasqueira apenas com uma mão. Com a churrasqueira acesa e o pedaço de carne em minha mão, que agora estava de luva, botei em cima da churrasqueira, com a pele virada para o fogo e deixei queimar — Por favor, fique acordado, adoro conversar durante a janta! — falei, um pouco mais animado do que antes, tentando manter ele acordado com o medo de dormir.

Me afastei dele quando este levantou, mas não por medo, apenas por segurança.

— Olha só... É um herege, devoto ou guardião? Tem cara de ser herege, mas por quê se deixou ser pego? — falei, obviamente não caçava hereges, era um trato com a ordem negra, mas como conhecia o temperamento dos hereges, puxei o meu alicate e deixei a machadinha para cima, ainda segurando a faca que havia usado para cortar o braço do herege — Vá, eu deixo você ir, tenho um trato com a ordem e tenho muito ainda que usufruir para quebrá-lo agora... — falei, com um sorriso, que demonstrava uma certa seriedade e amizade.

Comecei a rir descontroladamente, mas não era um riso de deboche, simplesmente tinha achado engraçado a situação, porquê normalmente era eu quem perguntava isso.

— Olha só! Parece que a presa virou o predador! E está até roubando minhas falas! — falei, animado, o sorriso aumentou, fazendo-se cada vez mais contraditório — Quid pro quo, conhece essa expressão? — perguntei, mas já respondia em seguida — Uma coisa pela outra, eu te conto um pouco de mim e depois é sua vez — o sorriso nunca desaparecia em minha fala, mas o tom parecia sério — Mas saiba que eu não quero coisas superficiais, quero saber o que você pensa quando está no tédio, sabe?

— Vamos manter a calma, não há por quê tanto estardalhaço numa conversa — falei, um pouco irritado com a sua agitação, mas sem demonstrar — Forçado a devorar pessoas? Que deselegante, me lembra até Hannibal! Eu achava a sua "alimentação" muito bruta. Aliás, sabia que o meu sobrenome do meio é o mesmo de um dos atores que interpretou o personagem? — continuei, indo até a churrasqueira e virando a carne, mesmo com ele ali, parecia que ele não ligava com o seu braço, então, não iria desperdiçar.

— Sentir medo de você? Já presenciei o mais alto escalão da ordem, você é só um descontrolado para mim — falei, encarando ele enquanto ele parecia se transformar — Você nem ao menos controla a sua própria habilidade. E que sua divindade entenda, ela não precisa se esconder de meros mortais, os únicos anônimos são aqueles que temem... Como eu. Por que uma divindade deveria temer? — falava, até ouvir o seu "corra". Depois disso, meu sorriso apenas diminuiu, era como se eu estivesse sério — Correr? Não tenho medo da morte, até por quê, quanto mais cedo morremos, mais cedo renascemos, não? Mesmo que isso é um pouco nojento, esperava voltar em tempos mais evoluídos, ou até mesmo nunca mais voltar! — terminei, falando um pouco mais irritado do que o comum.

Meu sorriso desapareceu quando ele mordeu minha barriga, não foi uma expressão de dor, só de irritação. Aquele descontrolado havia me irritado, não iria deixar barato. O pior de uma lanterna que não liga, é aquela que pisca incansavelmente.

De qualquer jeito, não tive pressa, com os equipamentos médicos, costurei minha ferida do melhor jeito, como um médico faria e, antes de sair, jantei a carne, jogando a pele que sobrou no moedor. Pele não era tão bom, só comia quando estava de bom humor e com certeza naquele momento eu não estava. Depois de tudo, andei, vagarosamente, para que a ferida não se abrisse novamente. Seguindo o rastro de sangue.

Ainda estava com as luvas e agora estava sem camisa. Mesmo se estivesse com frio, não ligaria, era como se a irritação esquentasse meu corpo mais do que o necessário. Contudo, a irritação não era o bastante para que eu me desconcentrasse, pelo contrário, estava muito mais atento e armado, na mão direita estava a machadinha e na mão esquerda a faca.

Tranquei minha casa antes de sair e segui o rastro de sangue, evitando o carro que parecia explodir. Não me importava com os velhos ali, a maioria não devia ter nem motivo para ficar vivo, só o medo de morrer.

O carro explodia matando diversos idosos daquele local, o rastro de sangue parava em um beco e obviamente alguém esperto como o canibal poderia saber que a questão daquele beco poderia ser a morte. 

--

Dentro daquele beco dava pra ver o garoto devorando pessoas, porém não eram só pessoas e sim crianças. 

Já havia lidado com devotos e guardiões antes, além de que treinava com a ordem negra, assim, mesmo sabendo que era arriscado entrar naquele beco, tive que entrar. Minha raiva não deixaria esse ser repulsivo ficar vivo, um pedaço do seu braço não era mais o bastante, agora iria comer até as veias do seu corpo, como um macarrão.

— Ei, descontrolado! Dá pra você ser menos repulsivo? Sua divindade não te ensinou boas maneiras? — falei e instantaneamente o sorriso voltava, mas o sorriso desta vez não era contraditório, não mostrava amizade e sim, nojo, era como aqueles sorriso de pura educação, contra pessoas que você odeia.

Encarei o espelho que apareceu em um instante, não estava surpreso, já estava acostumado com estas coisas. Mesmo com a dor de cabeça, assim como o corte no meu estômago, nada me incomodava, só queria ver aquele ser desaparecer da Terra, seu constante "pisca-pisca de escuridão" era o que me irritava e não deixaria uma abominação como aquela viver.

O que eu via no espelho era somente imagens de pessoas, nada mais do que isso, como se fosse uma câmera passando em alta velocidade no meio de uma multidão.

— Meio contraditório, não? Alguém que precisa matar para sobreviver, alguém que não se controla dizer isso — tentei destabilizar ele, obviamente não seria capaz de derrotá-lo nessa forma incontrolada em que se encontrava o homem, então, tentaria torturar sua alma, sua mente, de alguma forma. Ou, por algum caso raro, essa raiva incontrolada sumisse por um momento para que o golpe fatal fosse executado.

Oh, escolhido por aquele que tentou transformar os humanos em alguém mais interessante? Realmente, ele soube me observar. Foi o que eu pensei, assim que recebi a benção Dele. Quando tudo normalizou, olhei para aquele descontrolado e falei:

— Parece que voltei a ser o predador — e assim que eu terminei, o herege começou a queimar e a se sentir pesado e com dificuldades de caminhar. Em seguida, avancei para um ataque com a faca, mirando sua jugular.


[        Dados:

D15+16 - Dano da combustão
D20+11 - Acerto da combustão

D15+5 - Dano do ataque físico
D20+6 - Acerto do ataque físico    ]

O membro 'Mikael H. Ribeiro' realizou a seguinte ação: Lançar dados

---

#1 'D15' : 14

--------------------------------

#2 'D20' : 1

--------------------------------

#3 'D15' : 12

--------------------------------

#4 'D20' : 15