New Hope Church

Deveria estar estudando, sabia que deveria.
Mas, não conseguia se concentrar na aula, já era difícil normalmente, ainda mais agora com Miguel tão longe.
Só conseguia pensar na casa vazia que a esperava, e em como mal conseguia esperar que ele fosse voltar.

Por isso, sempre acabava por ali, sentada em um dos bancos enquanto fitava a igreja. Seus olhos azulados fitavam cada traço daquele lugar, sabia que era antiga e sabia do perigo que alguns temiam dela cair, mas, aquele lugar fazia a lembrar do seu pai adotivo, e por isso acabava se sentindo mais calma ali.

Claro que ele era um padre de uma igreja diferente, mas, ainda sim... Sentia-se confortável ali. Sorriu, fitando suas mãos e pensando nas mãos daquele homem, em como eram gentis e fortes. Certamente seus sentimentos eram confusos, mas, podia viver com eles ali dentro dela, sem nunca exibir.

Pensou brevemente no seu pai biológico, sentia falta algumas vezes de quando ele era carinhoso com ela, mas logo essa lembrança era substituída pelo nojo que sentia dele e de como nunca fora tão gentil assim com ela.

Acabou afastando esses pensamentos e fitou de volta para a imagem de Jesus na sua frente, desejando que seu pai adotivo pudesse voltar bem da viagem e que estivesse bem. Estava preocupada, certamente, mas, não queria acabar parecendo... Apegada demais.

Ficou surpresa com a aproximação do homem e sorriu de volta para ele, acenou negativamente com a cabeça, sem se importar muito com o afago na cabeça, suspirou.

- Não, apenas estou pedindo a Deus que meu pai possa voltar seguro da viagem, só isso.

Voltou a fitar o padre, inclinando a cabeça suavemente para o lado com um sorriso até mesmo inocente.

- Perdão, eu estou atrapalhando o culto?

"Membros restantes da sua família biológica", o rosto da garota imediatamente ficou assombrado com aquela afirmação, pensou em se levantar, mas, não queria chamar atenção.

Seus olhos fitaram o homem com uma tensão extrema, vendo agora aquela fachada boa se desfazendo. Mas, foi literalmente pega de guarda baixa, o que sequer iria dizer agora?

- Eu... Não sei do que está falando... Não faço a minima ideia de onde eles estão... E como você ficou sabendo disso?

....
Deveria segui-lo?
Pensou no seu pai, o que ele faria naquela situação?
Ele era normalmente frio e distante, certamente não hesitaria em levantar e seguir, apenas por pura curiosidade... Ou seria isso uma fantasia de sua mente? Talvez por não ter nada haver com ela, por não desejar nada daquilo, era capaz de levantar e simplesmente sair andando...

Pensou brevemente sobre tudo o que poderia encontrar, pensou sobre quem poderia sequer se importar se estivesse vivo...

Valia a pena verificar aquilo? Sua vida não seria mais a mesma. Apertou os punhos e respirou fundo, expirando devagar. Se levantou, caminhou até ele, seu olhar frio e decidido.

- Apenas vim aqui para lhe dizer que não tenho interesse em saber sobre eles. - Seu tom era frio, seco, algo completamente diferente de quando estava alguns segundos atrás, mas falou baixo para somente ele escutar. - Então, vou lhe dar apenas mais uma chance para capturar alguma coisa que seja do minimo do meu interesse.

A garota inclinou a cabeça suavemente para o lado, sorrindo quase cinicamente. Aqueles foram tempos negros os quais desejava que estivessem bem enterrados.

Quem trouxe esse sofrimento?
Não tinha o minimo interesse, estava prestes a virar de costas quando pensou ver seu pai adotivo.

Agora ela certamente entrou na porta, tentando se controlar para não acabar fazendo nada precipitado conforme entrava. Era ele mesmo..?

- Pai..?

Ver aquela cena, seu pai adotivo acorrentado daquela forma. Sua mente parecia ficar cada vez mais nublada, não conseguia entender. Era ele o motivo de tudo aquilo? Não podia ser ele, não sabia o que acreditar. Olhou para o Padre que a levou ali, voltou a olhar para seu pai adotivo e acabou correndo na direção dele, quase desesperada, checando por ferimentos.

- Pai, você está bem?!

Estava verdadeiramente preocupada, e aquelas risadas daquele padre... Se não estivesse com a mão no rosto daquele homem que a adotou, já teria avançado para cima daquele homem. Mas, mesmo onde estava, o seu olhar começava a ficar cada vez mais distorcido.

- Pai... O que aconteceu..?

Murmurava, preocupada com ele mais do que qualquer outra coisa.

- Pai...

Não queria sair dali sem deixa-lo para trás, mas, aquelas palavras...
Virou-se para o papel, pegando-o e leu.

-...

Seu olhar estava frio, acabou se levantando e fitou aquele padre.

- É melhor que ele esteja bem e inteiro quando eu voltar.

Frio, direto. Iria cumprir as palavras do seu pai, não se importava mais agora. Se era para queimar, precisaria de combustível e fósforos, não seria um problema arrumar nenhum dos dois.