Silence Forest

A garota logo adentrava dentro do carro do homem extremamente atenta para qualquer imprevisto, continuava a segurar sua dose no bolso.

- Agradeço a ajuda senhor. Antes de irmos gostaria de saber se é longe?

A garota apertava o sinto, estava um pouco insegura após ver a aparência do homem mas continua com fé, sua calma em relação a tranquilidade era imensa, continuava a controlar a maravilha que chama de sono.

Floresta > Hotel

Como de costume Gannicus corria em ritmo acelerado pela estrada de chão batido que adentrava a floresta, botas de trilha, calção woodland e uma camiseta coberta pelo fino casaco cinza era o traje usado naquela manhã que apesar de fria não interferia no corpo aquecido pela movimentação. Respiração controlada, cenho carrancudo e boa postura era como o atleta seguia sem diminuir o ritmo, já havia começado a suar e algumas manchas brotavam no casaco. A floresta era medonha mas correr lá todas as manhas o tornou bem confiante.

Realmente aquela neblina era intensa pra faze-lo errar daquela maneira, quando deu por si já havia escorregado lodo e estava descendo aquelas escadas de maneira nada convencional. Claro, como qualquer lutador ele sabia instintivamente como cair, então colou o queixo no peito e expirou devagar para não tensionar o corpo enquanto atritava contra a escadaria para tentar inutilmente parar a queda, já que estava tudo escorregadio.

-FADPOGFPWSHBTGJHNWROGYORKWPORF *Sons de alguém caindo de uma escadaria*

Ao chegar nos pés da escadaria, estirou as costas no chão por alguns segundos e respirou fundo enquanto se controlava pra não parecer um autista xingando uma escada no meio de uma floresta. Sua roupa estava toda suja e ele não precisava olha-la para saber disso, apenas se levantou enquanto batia no peito e cintura para tirar o excesso de sujeira enquanto localizava visualmente a origem do barulho.

-Juro que amanhã eu vou ir correr na praia... Neblina filha da puta.

Sem conseguir ver direito de onde vinha o grunhido, teve um breve dilema: seguir seu caminho e ignorar o barulho que o faria perder o pique da corrida ou ajudar o animalzinho. Se não fosse por seu gato talvez ele não tivesse afeição por animais e consequentemente ignoraria a situação, mas foi na direção do cachorro pra tentar ver melhor o que aconteceu.

Gannicus era uma pessoa relativamente normal, então ver um animal doméstico claramente dócil pronto para o abate era de pesar na consciência. Ao olhar para o homem de cara já parecia alguém totalmente estranho, ainda mais por dizer que aquilo seria seu jantar.

-Cara... Você é o que? Descendente de chineses? De onde eu venho a gente é hipócrita o bastante pra comer carne de animais selvagens mas ignorar esse tipo de bicho.


Não por piedade mas por uma questão egocêntrica, enquanto falava aquilo para o homem de preto ele se abaixou e abriu a armadilha para libertar o cão, já que se não fizesse isso poderia se questionar mais tarde o porque de ter deixado algo bizarro assim acontecer.

O cara era visivelmente esquisito, um pouco medonho, mas principalmente esquisito. Não achava que o homem fosse ataca-lo a final era só um cachorro libertado, porém estava esperto pro caso de estar errado.

-Insinuando que come pessoas também? Eu não quero ser nada, nem brigar com um cara que come animais de rua, só quero continuar com a porcaria do meu dia que já começou mal.

Mesmo depois de dizer isso, esperou um pouco e pensou sobre o que o homem estranho falou sobre ele.

-Antes de você sair da minha frente, que tal me explicar sobre o que você quis dizer com "lhe falta conhecimento"? Falando dessa forma você parece um ancião.

Um frio percorreu sua espinha quando ouviu a primeira frase, foi então que ele percebeu que o cara sinistro estava falando sério. Com coragem e orgulho, o loiro o encarava sem desviar os olhos já que a ultima coisa que ele faria era deixar aparentar medo ou apreensão.
Esperando que o homem de preto se aproximasse até uma distância que propiciasse um bom acerto, destemidamente Gannicus deu uma cabeçada digna de um lutador na altura de onde deveria ser o nariz do homem, em seguida sem esperar uma reação ele estendeu sua mão firmando os dedos e golpeou a traqueia de seu oponente, um ataque totalmente sujo. Ao fazer isso fechou uma guarda de combate semelhante a do ninjutsu.

Aquele filho da puta conseguia ficar ainda mais medonho sem chapéu do que com aquilo escondendo sua cara. Era normal que Gannicus arranjasse brigas por todo lugar, mas essa era a primeira vez que a derrota implicava em virar um jantar, sua postura de aço nem tremia mesmo com o pesar em sua mente, isso o fez pegar as soqueiras que estavam nos bolsos de sua bermuda.

-Parabéns, você é durão! Mas me desculpe, eu ainda quero arrebentar os dentes de um certo alemão então não posso ser sua comida hoje. -Falou ainda na guarda de combate.

Já nem esperaria pra ver se aquele cara ia desistir, agora só ia sair da floresta quando o deixasse inconsciente no chão. Ao terminar de falar, o lutador visou chutar a patella do joelho adversário, ele era forte então se o homem estranho não desviasse provavelmente teria a articulação de seu joelho seriamente danificada.

O monstro começou a sair da jaula, aquela defesa assustou o loiro que surpreendido não conseguiu bloquear o soco na barriga, porém endureceu o músculo abdominal calejado e preparado para receber golpes de lutadores heavyweight sem que seu diafragma fosse deslocado e o fizesse ficar sem ar. O chute em sua costela foi bloqueado pelos dois antebraços que formavam sua guarda, porém segurou seu tornozelo com força e aproveitou para chutar o testículo do homem que não conseguiria trazer a perna de volta tão rápido. Largou o tornozelo e formou a guarda de combate novamente.

-Seu soco é pesado... Parece que meu treino veio mais cedo hoje.

Aquele grito insano atordoou Gannicus por alguns segundos fazendo aquelas árvores rodarem a sua volta por um tempo. Após o desmaio do homem, o loiro finalmente pode agir e então descontou um pouco de sua raiva ajoelhando-se em cima do corpo inconsciente e dando um soco no nariz do estranho, não conseguiu usar toda sua força já que ainda estava um pouco desnorteado porém provavelmente o quebrou já que estava com um soco inglês.

-Filho da puta quase me deixou surdo e ainda queria me comer... Esse grito foi absurdo, eu me pergunto se eu devo te jogar naquele lago congelado e esquecer que estive aqui.

Refletiu por alguns segundos enquanto colocava as soqueiras nos bolsos novamente.

>>>Tenho que passar por aqui todos os dias... Se ele já me viu outras vezes vai saber que eu voltarei amanhã e pode vir preparado. Matar esse cara talvez evite problemas futuros.<<<

Ainda não tinha certeza se o que faria era isso, mas arrastou o homem estranho pelo pé até a beirada do lago congelado enquanto pensava em como proceder.

Em meio a tantos pensamentos e dilemas na cabeça do lutador que estava prestes a jogar aquele homem no lago congelado as palavras "Hotel Cortez" interromperam sua linha de pensamento, porém aquilo parecia uma obra de sua mente confusa então não deu muita bola.
Respirou fundo e decidiu mudar de ideia, largando o corpo inconsciente próximo de uma árvore ele o encarou um pouco.

-Eu decidi não julgar a forma que você vive, se prefere comer pessoas e animais que passam por aqui então o problema é seu, mas hoje sua presa não vai para o prato e eu vou garantir que eu não tenha tantos problemas com você daqui um tempo.

Ao falar isso segurou a perna do homem próximo da panturrilha e forçou o joelho do homem para baixo de uma vez só. Causou uma fratura exposta bem feia porém o sangue com certeza não coagularia e ele conseguiria voltar pra casa com alguma dificuldade.

-Você tem armadilhas, não vai morrer de fome.

Terminando sua frase o loiro acenou carismaticamente e voltou para o lado da estrada correndo a fim de terminar ao menos a quilometragem de corrida diária, embora sua mente não conseguisse pensar em outra coisa se não fosse aquela figura estranha que ele acabara de encontrar.