City Heart cold

Aquele jovem andava de casaco roxo naquela noite fria, sentindo o vento frio gelar a tinta branca no seu rosto.

Enquanto andava, ele às vezes parava para observar os prédios da universidade. Ele parava um pouco para refletir o que Zura (Katsura) dizia... Mas nenhum dos cursos dali lhe parecia ser algo que lhe traria felicidade, nem achava que tinha qualquer condição de passar para uma das faculdades ou mesmo pagar por elas.

Ele seguiu seu caminho até um dos bares onde já era conhecido, e pediu ao garçom "o de sempre"...Aquela cervejinha básica para aproveitar bem o frio da noite.
Ele continuou fumando seu cigarro e observando as pessoas enquanto esperava sua bebida chegar.

Kaleb já se mostrava mais animado ao ver sua cerveja vindo e aquele familiar garçom.

-Ah, está sim, hoje eu botei até as luvas, haha ~

Aquele ambiente era agradável pra ele. Como ninguém se incomodava com ele, como ele podia ficar ali aproveitando sua cerveja com calma, enquanto nunca esquecesse de pagar a conta.

Ele ficou curioso ao ver a moça se sentando em sua mesa. Não era algo muito comum, mas que o deixava feliz naquele lugar. Achou mais curioso ainda os olhos dela, já que os seus também eram naturalmente roxos. Ele literalmente a recebeu de braços abertos.

-Prazer em conhecê-la, Pandora, bem vinda à minha humilde mesa. E bem... Eu gosto de observar as pessoas se divertindo ao som da música, é relaxante. ~ Servida?

Na verdade ele tinha essa tendência a se afastar das pessoas e ficar quieto no seu canto desde mais novo. Mas ele não conseguia identificar isso.
Ele apontou um pouco para sua garrafa, oferecendo à moça.

Kaleb acenou com a cabeça de olhos fechados e sorrindo. A moça tinha razão, embora ele ainda achasse um charme naquelas cervejas. O gosto amargo parecia mais apropriado pra ele... E ele não tinha certeza por que.

-Bom, a tinta no rosto é só um hobby meu... E ajuda um pouco a me afastar de problemas quando saio de noite.

O juggalo continuou bebendo tranquilamente sua cerveja antes de continuar.
Ele olhou pro lado pras pessoas nas mesas com uma expressão curiosa. Pelo sorriso em seu rosto podia passar por ume expressão meio sonolenta e bêbada de carinho.

-As pessoas daqui estão sempre tão animadas apesar do frio... É algo que me deixa mais tranquilo.

Para um bom observador seu olhar era até um pouco melancólico.

-E você, vem sempre aqui ?

A pergunta podia parecer uma cantada, e bem, se funcionasse como tal não haveria o menor problema. ..Mas Kaleb perguntava por que apesar de passar as noites ali olhando a todos, ele praticamente nunca conseguia gravar o rosto de ninguém.

Ele riu tranquilo junto com a moça.

-Obrigado Pandora ~ E bem, sendo uma moça tão bonita e interessante, imagino que eu não seja o único a ter feito isso ~

Seguir o fluxo das coisas era simplesmente seu jeito normal de agir.

-O clube de leitura parece interessante ~ Veio sozinha? O clube de leitura é dentro da faculdade ?

Isso era algo curioso pra ele, já que, aquele pequeno desejo e interesse na instituição estava ali, embora tudo a sua volta parecesse querer apagar aquela chama.

O rapaz aproveitou para focar um pouco no seu cigarro enquanto a moça pegava o livro.

-Parece interessante, que tipo de coisas antigas ?

O juggalo terminou de beber um dos copos e o encheu com que sobrava da garrafa. ele coçou um pouco a cabeça, um pouco envergonhado.

-Bom, no momento eu não estou estou estudando. ...Eu.. ahm... Pratico um pouco de arco e flecha só.

Um pouco era uma boa definição já que sua prática de arco e flecha se resumia a algumas vezes irritar o mestre Zura e o mesmo botar ele escondido para dar alguns tiros ao alvo.

Ele podia perceber o tom de voz da moça, mas não parecia se incomodar com isso, e continuou bebendo tranquilamente, apagando o cigarro no cinzeiro da mesa.

-Nem todos os dias... Quando a grana tá curta eu procuro algo lá por baixo mesmo... Mas aqui é mais agradável.

Ele encostou as costas na cadeira enquanto bebia a cerveja.

-Arco e flecha é uma arte.... Que eu não entendo muito bem. Mas... Eu sou só um palhaço de qualquer forma.

Ou ao menos era o que sempre ouvia.

-Eu...? Eu moro em City of Iron.

Sua resposta à pergunta da moça foi fazer sinal pro garçom, pedindo a conta, e uma garrafa de cerveja para viagem.

-Claro.

Isso já era algo dele. Por mais desconfortável que tivesse ficado com as palavras da moça, não iria deixar a moça correr perigo pelo horário. Ele mesmo tinha certo receio de andar só a noite, ainda que estivesse acostumado.

Ele aguardou sua cerveja para poder se levantar.

-Só guiar o caminho.

Ele ia perguntar onde ela morava até lembrar que ela disse que os universitários moravam ali mesmo na cidade. Talvez o garçom fosse achar que ele "ia se dar bem" como tinha acontecido algumas vezes, mas desta vez era mera questão de segurança mesmo.

Ser amigo do garçom era uma das melhores coisas que tinham, na opinião de Kaleb. Ele riu um pouco, pegou a cerveja e saiu acenando.

-Até amanhã se Deus quiser.

Kaleb inclinou um pouco a cabeça olhando pra moça. Ela não estava com frio? Iria tirar o casaco e emprestar para ela mas... Melhor perguntar primeiro.

-Podemos ir. Não está com frio ?

Seguiu andando esperando a resposta com a garrafa na mão. Vez ou outra ele olhava pra cima pra ver o céu estewlado que tanto parecia interessar a moça.

"Ué"

O garoto tinha se virado um pouco com aquela sensação de que tinha sido chamado.... Ele olhou de relance para a moça na parede pelo segundo que demorou para ela sumir na multidão.

"Esquisito eu não tô nem tonto ainda"

O rapaz quase tropeçou ao ser puxado mas foi acompanhando o ritmo da moça.

-Se você quiser, pode usar meu casaco enquanto não chegarmos na sua casa.

O rapaz olhou na direção que a moça apontou. Se perguntou se não deveria tentar falar com a outra moça já que não era uma boa dar PT sozinha no meio da noite...

Quando ele entendeu o que estava prestes a acontecer, ele parou de andar.

E apertou a garrafa na mão com tanta força que Pandora iria conseguir ouvir o vidro trincar.
Seu braço, que pandora segurava, também estava contraído e tremendo de raiva, e ele tinha cerrado os dentes com força suficiente para fazer sua boca sangrar um pouco.

Naquele momento ele tentava decidir o que fazer.... Não queria deixar aquilo acontecer, queria quebrar todos os ossos daqueles caras.
Mas... Pandora estava a seu lado. E deixá la ir para casa sozinha era deixá-la a mercê desse mesmo risco. Ele voltou a andar com os olhos na direção do beco com a fúria de um cão raivoso. E andava praticamente como um predador circulando a presa... Mas basicamente tentando esconder Pandora pro seu tamanho.

" O que eu faço....Eu posso quebrar os caras e cuidar das duas... Ou me ferrar e ambas pagarem com isso...."

Ter que escolher entre uma ou outra fazia seu sangue ferver.

!!!

O rapaz estava verdadeiramente PUTO.
Podia não ser muito bom para reconhecer rostos, mas os daqueles caras ele iria se lembrar. E ia fazer eles se arrependerem se cruzassem seu caminho.

Mas a garota tinha razão. E já era tarde demais. Pelo menos ela ele teria que proteger.

Ele continou andando, agora um pouco mais rápido, abrindo sua garrafa e bebendo seu conteúdo assim mesmo, chegando a virar o equivalente a um copo inteiro antes de pausar e seguir em frente.

Sua próxima pausa foi pra tirar o casaco e botar nas costas da moça, revelando a camisa preta por baixo, e agora chegando a ser visível o volume na camisa causado pelo terço escondido.

-Falta muito pra sua casa ?

Ele parecia mais acordado que nunca, prestando atenção a cada detalhe na rua.

O juggalo pausou um pouco.

-Não. Eu não tenho pra onde voltar.

Tinha um lugar pra dormir mas... Não um lugar para o qual pudesse ou quisesse voltar.
Ele colocou ambas as mãos nos ombros da moça.

-Eu apenas quero ficar mais tranquilo de saber que você vai estar em segurança logo. Eu vou te acompanhar mesmo que tenha que virar a madrugada para isso.

E ele falava sério. Agora ele estava sim, levemente tonto, mas acordado o suficiente para escoltá-la.

O rapaz suspirou de alívio. Achou curiosa a aparência do homem da escada mas não deu muita atenção.

Ele foi andando até a casa junto com Pandora, e depois pausou na frente da mesma, bebendo mais um gole de cerveja direto da garrafa.

-Bom, agora você está segura....Quem é o mano do tapa olho?

Não era por querer ser rude, mas acabou ficando curioso. .. E honestamente como não sabia mais o que dizer, resolveu puxar mais assunto antes de ir embora.